quarta-feira, 27 de abril de 2016

História da Igreja #1: Introdução

   
Mosaico da multiplicação de pães e peixes Disponível em https://sites.google.com/site/esteticadephi/arte-simbologia
   Nesta coluna de nosso blog, vamos aprofundar um pouco a discussão sobre o cristianismo, uma jornada por dois mil anos de História e Teologia.
Hoje, gostaria de abordar com vocês algumas maneiras de se enxergar a História da Igreja de maneira geral e em como abordagens discrepantes podem levar a percepções muito fora da realidade da própria Palavra de Deus e da imagem que podemos ter do próprio Jesus Cristo. Para este pequeno artigo, aproveito um pouco de meu primeiro livro, História da Igreja no Brasil, publicado pela editora Asselvi e escrito para o curso de Bacharelado em Teologia para uma faculdade de Santa Catarina.
     Em primeiro lugar é fundamental entender que qualquer História a ser escrita parte de determinada seleção que é feita a partir dos pressupostos teóricos do autor. A História é uma leitura da realidade, uma busca por uma "verdade" histórica, verdade esta que precisa passar pelo crivo teórico de quem se propõe a escrevê-la. Como exemplo podemos citar uma escrita da História da Igreja por um pesquisador de formação católica e outro de formação protestante. A maneira como ambos enxergam a igreja e como escreverão suas versões da história terá relação com sua formação acadêmica. Em meus livros sobre História da Igreja e História da Igreja no Brasil, sempre procurei deixar bastante claro com meus alunos que qualquer escrita da História de qualquer objeto é uma construção do autor, e com a igreja não é diferente. Neste sentido, acredito ser de fundamental importância que se tenha uma ampla visão das abordagens teóricas possíveis para, a partir delas, montar uma seleção que se proponha a mais imparcial possível. Neste sentido, é muito importante que alguns conceitos permaneçam os mesmos ao longo da pesquisa. Para este autor, um elemento muito importante para uma História da Igreja é o conceito de doutrina, pois é ele que vai apresentar Cristo para as gerações futuras. Neste sentido, de acordo com esta doutrina, a verdade cristã é tal que ela não é perdida ou deformada ao unir-se com o concreto, o limitado e o transitório. Para esta definição do conceito de verdade, podemos utilizar duas abordagens que são incompatíveis com a verdade bíblica para, através delas poder entender melhor aquela que buscamos para nosso trabalho.

     A primeira definição apresenta a verdade como existente apenas dentro do domínio do eterno, do permanente e do universal, portanto ela não pode existir dentro do plano físico, histórico e no individual. Esta é a visão grega da verdade e influenciou muito o início do cristianismo, e desta forma, a civilização ocidental nos primeiros séculos. Pensando em Cristo, esta afirmação teórica nega a doutrina bíblica da Encarnação, pois Cristo seria apenas um Deus imaterial, permanente e universal, mas não poderia ser visto como o Deus encarnado que os Evangelhos demonstram e que o Antigo Testamento apontou por séculos acusando Sua iminente vinda. Este desvio teológico gerou a heresia do Docetismo que ensina que Jesus era um ser divino, que apenas possuía aparência de homem.

     A segunda definição diz que toda a verdade é relativa, que não existe verdade absoluta entre os seres humanos. Esta é a vertente "na moda" digamos assim nos últimos dois séculos de nossa sociedade. Ela ganhou força através dos avanços tecnológicos e científicos da humanidade. Esta afirmação filosófica pode ser atrativa, mas ela é completamente incompatível com a doutrina bíblica da infalibilidade bíblica, que apresenta a Jesus como a essência da verdade para a humanidade e esta verdade é tão real hoje, como o foi no século I de nossa era. No século I, a heresia do Ebionismo adotou esta perspectiva quando clamava por um retorno à Lei de Moisés. Eles eram também conhecidos como os Judaizantes que buscavam adaptar a nova realidade do discurso de Cristo com as práticas judaicas. Como parêntese, este parece ser um novo modismo em algumas denominações evangelicas, sedentas por novidades que estão adotando elementos da religião judaica em seus cultos e programações. Tenho a impressão que o afã por novidades associado com a velocidade em que a sociedade muda seus pressupostos estão de alguma forma penetrando em algumas camadas do protestantismo brasileiro em nossos dias. Percebo uma necessidade premente de nos diferenciarmos através destes elementos secundários, quando na verdade segundo o próprio Cristo, seria a semelhança o elemento que mostraria ao mundo que Ele nos enviou:

para que todos sejam um, Pai, como tu estás em mim e eu em ti. Que eles também estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. João 17:21

     Viu como os conceitos teológicos podem mudar drasticamente a maneira como a verdade será apresentada? Para nossa análise, a definição de verdade deve ser teológica, ou seja, considerar de a definição bíblica, sendo Cristológica portanto. A Verdade eterna e divina, esteve presente na terra através do ministério de Cristo, através da Encarnação de Cristo, todas as promessas atribuídas ao Messias desde o livro de Gênesis foram cumpridas através da Morte e Ressurreição de Cristo. Jesus era totalmente divino, e também totalmente humano. Toda a escrita de uma História da Igreja deve levar em conta esta visão de Cristo, caso contrário não será possível compreender todas as heresias que ameaçaram o início da Igreja. No início de sua jornada, a igreja foi ameaçada externamente pelas perseguições e internamente pelas heresias. Nas próximas colunas vamos tratar destas ameaças, gostaria de destacar a importância dos conceitos teóricos e de que maneira eles nos ajudam em nossa prática diária.

     Aplicação Prática

     Abordamos hoje, o conceito de verdade e dois aspectos teóricos a respeito dela. Existem outros aspectos, mas os aqui apresentados nos ajudam a perceber que pequenos desvios da abordagem bíblica podem nos afastar do relacionamento com Deus. 
    Conhecimento a respeito dos temas que o cristianismo propõe é muito importante para que não sejamos levados por ventos de doutrina, que nada mais é do que a leitura que os homens fazem de verdades eternas, culturalmente relevantes para o contexto histórico no qual foram escritas. Vivemos em tempos onde o acesso é livre a praticamente todo o conhecimento da humanidade, mas ao mesmo tempo fazemos parte de uma sociedade rasa em termos de conhecimento. Precisamos estudar aquilo que é importante para nossa caminhada. Uma das melhores maneiras de sermos uma igreja bíblica no século XXI, é olhar para nossos antepassados e para sua teologia. Isto com absoluta certeza irá retirar as heresias e exageros que brotam nos programas televisivos, na Internet e em pregações de cunho duvidoso com práticas antibíblicas. 
     Quando fui convidado e porque não dizer, desafiado a liderar jovens, quando já era professor de teologia, uma das premissas para o aceite deste ministério seria que para que eles fossem conhecedores da Palavra a ponto de poderem julgar por si mesmos situações e posicionamentos teológicos para saberem se algo é ou não saudável. É uma tarefa árdua, mas aquela que realmente interessa quando queremos fazer discípulos de todas nações e discípulos semelhantes a Jesus!

Pastor Eduardo Medeiros

Eduardo é Filho de Deus, Doutor em História, professor universitário, autor de livros sobre História da Igreja, História de Israel, Arqueologia Bíblica, Cultura Religiosa entre outros, pastor de jovens, esposo e pai apaixonado.
 
     

Nenhum comentário:

Postar um comentário